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Omissão - Estratégia da Covardia
☕ Dose Plena - Carta 008

A gente costuma pensar que tem coragem.
Que enfrenta. Que banca. Que não foge da raia.
As pessoas adoram esse discurso porque ele soa bonito.
Dá uma aura heroica, um brilho discreto de “sou do time dos que não se omitem”.
Só que... a omissão não precisa parecer dramática, e nem sempre se esgueira nas sombras.
Às vezes ela vem elegante, bonitona, ocupadíssima, e cheia de compromissos importantes, toda montadinha de blazer bege e salto alto.
A omissão costuma se disfarçar de prudência.
De timing.
De “este não é o momento”.
E a gente engole isso como se fosse estratégia. Sabedoria.
Mas no fundo — bem no fundo — sabemos que estamos só sendo covardes.
Adiando (ou até evitando) um incômodo.
Porque coragem mesmo... coragem não espera clima favorável.
Coragem aparece no olho do furacão.
A coragem é a virtude que nos faz agir quando e onde uma ação é necessária, ainda que não seja conveniente para o nosso conforto naquele momento.
A covardia nos impede disso. E muitas vezes, nos torna cruéis.
💥💥💥

O custo de não dizer o que deve ser dito. Ou não fazer o que deve ser feito.
⚖️ A coragem como escolha
A covardia não é uma fragilidade inofensiva. Ela é atroz. É fraqueza de caráter.
Um covarde não é movido apenas pelo medo, mas também pelo egoísmo.
Seu erro vem da vaidade, de se acreditar especial — alvo de inveja, injustiçado em sua própria narrativa, ameaçado por ser tão importante.
Imaginação sobre razão.
Como se a suspeita de um mal futuro justificasse o próprio mal antecipado.
A coragem, por outro lado, está embasada na confiança, na boa vontade e na razão. Coragem não dá asas à imaginação perniciosa. Ela entrega a ação porque enxerga não só os atos, mas a essência por trás deles.
Enquanto a covardia é autorreferente, a coragem é empática. Enquanto a covardia calcula riscos para si, a coragem considera o que é justo, mesmo que doa.
Coragem é escolha. Escolhemos fazer o que deve ser feito, ou escolhemos não fazer. Ou temos a coragem de agir, ou escapamos para a omissão — que é a covardia embebida no conforto.
“Quando você tem algo a dizer, o silêncio é uma mentira.”
Coragem é reconhecer uma verdade desconfortável. E agir a respeito.
É olhar para si e assumir um erro — e consertar da melhor maneira possível.
É admitir que não se sabe alguma coisa — e procurar saber ou buscar quem realmente sabe.
É mudar de opinião quando os argumentos contrários são válidos, sem sentir que sua identidade inteira morreu naquele momento.
É opor-se a algo ruim, mesmo quando o custo para você pode ser alto.
É sair de casa numa noite fria, com chuva e sirenes, e entregar um colchão seco para alguém que não tem onde deitar naquela noite. Mesmo que ninguém veja. Mesmo que você perca o sono.
Eis aqui uma mea culpa: na primeira noite da tragédia do granizo que tivemos recentemente, eu fui uma das pessoas que pensou em deixar para ajudar só no dia seguinte. Parecia ser uma estratégia melhor. Para mim, não para quem perdeu tudo e não tinha roupas secas e nem onde dormir naquela mesma noite.
A coragem é o que impulsiona uma atitude necessária numa hora em que tudo pede o contrário. Encontrar a coragem é uma decisão e, se fosse fácil, qualquer um faria. Nunca é.
“A boa intenção só não basta.”
“O inferno está cheio de boas intenções.”
Coragem é isso: não o conforto da boa intenção, mas o desconforto da ação necessária.
💥💥💥

A coragem que não está no espelho.
🎭 As diversas faces da coragem
Tem gente que é treinada para luta, mas não suporta reconhecer um erro. Omite.
Tem gente que se orgulha da força, mas silencia quando mais precisaria pedir ajuda. Gente que já venceu batalhas sérias — mas não consegue, simplesmente, dizer: “eu preciso.”
É bom que você seja forte. Que saiba resistir, que tolere o desconforto. Mas é importante lembrar que coragem não é só enfrentar o mundo — é, muitas vezes, enfrentar a si mesmo.
Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza. Reconhecer um erro também não. Às vezes, é o gesto mais corajoso possível.
“Até o soldado mais valente às vezes precisa estender a mão. E isso também faz parte do trabalho.”
A coragem está nos gestos silenciosos, nos reconhecimentos internos. Na capacidade de não fingir invulnerabilidade ou perfeição. Na liberdade de não precisar parecer invencível o tempo todo.
(Se até o Wolverine e o Deadpool têm seus pontos fracos, não sou eu e nem você que vamos escapar ilesos. Convenhamos.)
💥💥💥
🧠 A sabedoria que não grita
A sabedoria virou uma senhorinha quieta sentada num canto da festa, enquanto a gritaria dos “donos da verdade” domina a pista.
Ninguém a ouve.
Talvez porque ela não grita. Nem performa.
A sabedoria não lacra, não viraliza, não fecha com nenhuma bolha. Ela não impõe.
Ela pergunta. Questiona. Duvida.
Ela não vive de certezas — vive de busca.
Reformula as perguntas.
Analisa as fontes, as referências. Sopesa, considera e decide.
E hoje em dia, questionar é quase uma ofensa.
Pensar com calma é considerado atraso.
Refletir é “ficar em cima do muro”.
Duvidar é pecado. Esperar, um erro.
Mas a sabedoria sempre foi calma.
Sempre foi humilde.
E sempre foi a mãe das outras virtudes — aquela que bota ordem no caos interno, e impede que a coragem vire imprudência.
"Você não pode aprender aquilo que acha que já sabe."
Talvez seja isso o que assusta.
Porque admitir ignorância... exige coragem.
Da brava. Da que sangra ego.
💥💥💥
🤷🏼♀️ E se tudo isso for para nada?

Recursos só servem bem se forem aproveitados.
A gente diz que quer segurança. Acumula conhecimento.
Trabalha, estuda, economiza, constrói reputação, cria estabilidade.
Para quê?
Para, um dia, quando chegar o momento certo, usar tudo isso a favor do que importa.
Fazer o que é certo.
Dar o salto.
Falar o que precisa ser dito.
Só que esse momento certo… nunca chega.
Porque sempre dá para esperar mais um pouco.
Sempre é melhor “deixar passar essa crise”.
Ver como a coisa evolui sozinha.
Esperar baixar a poeira. Esperar o timing. Esperar a aprovação.
Enquanto isso, a vida segue:
Cheia de injustiças pequenas na fila do café.
Cheia de silêncios no grupo da firma. Na reunião de família.
Cheia de oportunidades desperdiçadas de fazer a coisa certa quando ainda dava tempo.
E quando a chance de agir passou, vem aquele pensamento incômodo:
"E se eu tivesse feito? E se eu tivesse dito?"
💥💥💥
🧱 O mundo precisa de gente que banca.
Tem quem diga que está esperando o momento certo para agir. Que não pode se expor ainda. Que precisa manter o cargo. Que tem que pensar na família.
Tem quem se convence de que é mais útil calado, diplomático, neutro. Que repete para si mesmo que, se sair agora, alguém pior vai ocupar o lugar.
E assim, passa a vida esperando a melhor hora de fazer algo… sem nunca fazer nada.
A verdade é que o mundo não precisa de mais estrategistas com medo de perder seus cargos, queimar seus filmes ou perder suas regalias.
Precisa de gente que não silencia quando o certo está sendo esmagado.
Que faz a denúncia. Que entrega o cobertor. Que assume o erro.
Precisa de gente comum com coragem.
Gente que escolhe perder o aplauso, o conforto, mas não a integridade.
Não precisa de perfeição. Precisa de coerência. Mesmo que seja desconfortável. Mesmo que custe.
Mesmo que pareça pequeno demais para fazer diferença.
Porque faz.
Faz toda a diferença.
💥💥💥
✨ Se não você, quem?
A gente vive esperando tornar-se alguém melhor para ter mais coragem.
Mas a ordem não é essa.
Não é: evolua → depois aja.
É: aja com o que você tem → e talvez isso te torne alguém melhor.
“Se não eu, quem? Se não agora, quando?”
Não espere se sentir pronto.
Coragem nunca chega de fora. Ela brota de dentro.
Então, se você está esperando mais segurança, mais tempo, mais certeza…
Talvez não esteja esperando a hora certa.
Talvez só esteja negociando com o medo.
E o medo, de praxe, é um mau conselheiro.
“Noventa e cinco por cento dos covardes são capazes das coisas mais vis, à menor ameaça.”
Faça o que precisa ser feito com os recursos que você tem agora.
Do jeito que der.
Com a cara que tiver.
Porque com os obstáculos que a vida coloca na sua frente, com as decisões que ela exige de você, ela está te perguntando sobre sua coragem.
Todo minuto de todos os dias, você é convidado a responder:
Você é um dos covardes?
Ou você é alguém em quem se pode confiar?
Você tem o que é necessário?
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🧪 Microdoses da Semana
🎧 Música: "The Sound of Silence" – Simon & Garfunkel
Porque às vezes, o silêncio não é paz… é covardia polida.
📚 Livro: Courage Is Calling – Ryan Holiday — O Chamado da Coragem
Um manual moderno sobre a virtude mais exigente: fazer o que precisa ser feito.
📺 Filme: O Jogo da Imitação (2014)
Coragem silenciosa, sacrifício invisível e o preço de pensar diferente.
💭 Frase de Guardanapo de Boteco:
“Entre o ato certo e a hora certa, escolha o ato.”
Às decisões difíceis, aos 'nãos' sinceros e à coragem de quem bancou.
🥂 Taças ao alto, brinde feito – Seguimos!
Com carinho,
Lucia Helena
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