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Antídoto – A Carta Inaugural de Aurora
📂 Arquivo Confidencial | Contraponto [A/C #004]-[A Primeira Carta]


✦ INFORME de CIRCULAÇÃO ✦
❧ Aos domingos: Dose Plena traz doses de reflexão filosófica;
☍ Às quintas: abre-se o Arquivo Confidencial [Contraponto] — ficção epistolar.
✑ Hoje, no cardápio: Entretenimento ficcional de quinta.
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📂 Documento Recuperado | ARQUIVO CONFIDENCIAL [Contraponto]
Dossiê: Antídoto - A Carta Inaugural [A Primeira Carta de Aurora]
Status: SIGILOSO — Classificação: Nível 5
Registro: 004-A/C
═══ ═══ ⚠ CONFIDENCIAL ⚠ ═══ ═══
Esta correspondência faz parte da série de registros confidenciais agora liberados para leitura autorizada.
Todos os documentos já recuperados e devidamente arquivados encontram-se reunidos no índice completo.
🔗 Para consulta integral, acesse: 🗂 ARQUIVO CONFIDENCIAL
🔗 Para índice do [Contraponto], acesse: 🗄 CATÁLOGO INDEXADO
═══ ═══ ⚠ CONFIDENCIAL ⚠ ═══ ═══
Este documento foi localizado entre registros dispersos atribuídos a Aurora Gabbiani.
Trata-se da carta inaugural que deu início ao contato epistolar com Davi Montello, após anos de silêncio e distância.
O texto é confessional e sem defesas: uma rendição sem estratégia, marcada por lembranças, ausências e a insistência de uma memória que se recusa a morrer.
Material de alto impacto emocional, considerado ponto de partida para todo o Contraponto.
Ao final do documento, nesta edição, segue o ⌖ índice ⌖ para acesso às correspondências previamente recuperadas.
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▒ Arquivo suplementar sugerido:🎼 Enjoy The Silence – Carla Bruni

📤 Aurora → Davi
Antídoto
Querido Davi,
Pensei em você e em todas as vezes que quase escrevi.
Espero, de todo meu coração, que você esteja bem e que sua vida seja cheia de realizações.
Espero, também, que você possa entender o que faço agora: decidi escrever.
Passei a noite em claro, tentando me impedir de fazer isso – mas, como vê, não dei conta. A hora em que a luz invade é a minha hora. Cansei de resistir: vou invadir sua caixa de mensagens.
Estou em busca de um antídoto que, tentarei explicar, está em você.
É um antídoto de ausência.
Não precisa se assustar, nem é nada de absurdo – ou é.
Deus sabe.
Mas essa mera sensação de possibilidade me tomou, como um prenúncio de euforia, um tipo de contentamento inexplicável e, chegando até a angústia, extravasou aqui e agora.
Espero que você aguente.
Não faz sentido estar escrevendo, eu sei.
Passei tempo demais me convencendo disso. Achei que esqueceria. Achei que o tempo faria o trabalho sujo. Mas não.
Você é em mim uma ferida que não fecha.
Desculpe, peço perdão pelo clichê. E por todo o resto: o erro que cometi; o óbvio que deveria ter feito – e deixei passar. E até por lhe escrever, agora.
Não sei o que mais posso fazer, além de tentar explicar. E, quem sabe, conseguir.
Imagino sua cara, lendo isso – se é que vai abrir a mensagem.
Meu nome deveria ser Esperança, em vez de Aurora, já que escrevo com a urgência de quem não tem outro recurso, e repleta da expectativa insensata de que você leia estas linhas e acate meu pedido: aceite meus e-mails (como cartas para você).
Tem mais: pretendo que, através deles, você me reconheça. E, arrisco ainda, talvez até possa querer me responder alguns. (Bem, este aqui, em específico, seria essencial).
Se não puder aceitá-los, que ao menos guarde a lembrança do meu último gesto ridículo.
Não ligo. Preciso tentar.
Estou mesmo decidida.
Queria poder lhe contar – e isso faz parte do meu plano:
Estive revendo as minhas fotos daqueles anos, antes das coisas mudarem.
Tenho algumas com você. Nossa leveza... aquele lugar carregado de encanto invisível.
Agora nem o antigo lugar é igual.
Fui para lá, não faz tanto tempo. Aquela terra era meio mágica, não era? Para todos os que habitaram aqueles caminhos, enchendo as paredes dos corredores e os próprios estabelecimentos de todo tipo de expectativa pulsátil, viva, contagiante.
Por ter sido o território de acontecimentos sem medidas e sem meios-termos. Tudo elevado à décima potência. E nem percebíamos a rapidez das fases, apesar dos avisos dos que vieram antes de nós... a vida é assim.
Lembra dos escombros depois da casinha amarela? Os nomes imortalizados à canivete naquelas pedras, por trás dos musgos. O seu deve estar lá, com aquela rima atroz e o desenho pior ainda. (Ah, juventude – a empáfia da sensação de posse da eternidade!)
Não consegui chegar perto – um gosto amargo, confuso, na boca.
Doeu de saudades ver como nada resiste ao tempo – exceto isso que não sei nomear. Esse fio que não arrebenta (piegas, muito piegas… já fui melhor para descrever as coisas. No entanto, gosto bastante dessa imagem de fio metafísico indissolúvel).
Pensando agora, tudo parecia bem mais fácil.
A não ser aquele final que se aproximava, espreitando, enquanto abríamos os caminhos como pequenas divindades rotas, que erravam e acertavam com a mesma alegria leve, despreocupada.
Então, a distância chegou, como era o destino implícito.
Não houve rompimento, nem tragédia, nem palavras ásperas.
Houve apenas a ausência, como se fosse natural — e talvez fosse.
E, contudo, foi justamente essa ausência que me empurrou para este e-mail.
Explico: por um longo tempo suspeitei de uma forte conexão entre nós, por acreditar que você sentisse o mesmo que eu sobre a maioria das coisas.
Por perceber que o seu ser me obsediava como uma melodia, tornando tudo muito mais interessante.
Imaginei que tivéssemos um mesmo componente químico, que fizesse parte dos nossos espíritos em iguais proporções.
Devaneios, imaginações e fantasias. Coisas só minhas, talvez.
Deixei passar. Agora, insisto em tentar descobrir.
Conexão física, não. Nunca foi possível. Não teria sido inócua — tenho certeza de que eu não teria sobrevivido.
Mas você tem esse ingrediente secreto que me enche de ternura e afeto, contra o qual eu não tenho reserva, e que continua a me estimular infinitamente.
Tenho curiosidade sobre as suas opiniões e os seus pontos de vista sustentam todo o meu interesse. E tenho esperança de alcançá-lo, já que você é o enigma que falhei em compreender, e optei por não aceitar a derrota.
Porque preciso da existência com você, de algum modo.
E aqui, nas linhas, ainda é possível.
Nesses últimos anos, eu escrevi para você centenas de cartas sobre esse tema – mas nunca que você iria saber!
Acho que eu usava isso para burilar meu estilo (hahaha!).
Por favor, não se ofenda.
Mesmo nos piores dias, pensar em você só me trouxe coisas boas – apesar da falta.
A ausência.
Dor lancinante que me causa nessa vida.
Ah, Davi, como senti essa sua ausência! E mais – terrivelmente mais – porque você nunca soube a verdade.
Se isso for desconfortável, peço desculpas. Não é para ser. É apenas uma tentativa de resgatar um mínimo daquilo que ficou para trás. Eu preciso.
O que não foi – ou o que poderia ter sido – nem tem importância agora.
O que me importa é a possibilidade dessa presença como um antídoto da ausência.
Preencher com cartas o espaço que separa uma pessoa da outra. Aquele espaço que custa séculos de existência.
Escrever histórias e mais histórias, com as sensações que inebriam e arrebatam (e tome poesia ruim!).
O que eu espero de você é que me aceite, com todas as falhas e todos os excessos, e me permita estar perto – mesmo de longe.
Ainda que você não aceite, ou não permita – ou nem responda, saiba que guardarei por você meus melhores sentimentos, sempre.
Como vê, estou completamente entregue e desarmada.
Grandiosos sejam os seus dias e as suas realizações.
Que você esteja bem guardado e protegido, e que a sua fé nunca esmoreça.
Dossiê: Antídoto
Status: EM RECUPERAÇÃO | Classificação: Nível 5
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COMUNICADO OFICIAL
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🔐 ARQUIVO CONFIDENCIAL – CONTRAPONTO
Próxima liberação de documento:
Registro: [A/C #005] – Título: “Re: Antídoto” | [A resposta de Davi Montello]
Status: RECUPERADO.
O próximo documento já se encontra disponível no arquivo.
Seu conteúdo pode conter dados determinantes.
Data de liberação: 28/08/2025.
Classificação atual: Acesso Restrito — Nível 5
⌘ ARQUIVO EM ABERTO — sujeito a acréscimos repentinos.
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📌 ⌖ ÍNDICE PARCIAL DO ARQUIVO [CONTRAPONTO] ⌖
📂 [A/C #000] – Prelúdio - [CONTRAPONTO]
📂 [A/C #001] – Além da Conta - Carta de Aurora
📂 [A/C #002] – Re: Além da Conta - Resposta de Davi
📂 [A/C #003] – Nota Não Enviada [Além da Conta] – Rascunho de Davi
⌭ 📂 Dossiê: Antídoto
— Status: ENCERRADO
◍ Este documento [A/C #004] ✔️
◍ Documento final [A/C #005] ✔️
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