Carta a um Jovem Cavaleiro de Outro Reino (muito distante)

Prezado Sir Davi Montello,

Esta é uma carta para lembrá-lo de parar de encher a sua linda e aprumada cabeça de bravo e destemido cavaleiro com tanta barbaridade, e voltar a sonhar imediatamente.
Como vai você?

Resolvi contar-lhe que viajei por vários mundos – e conheci vários seres que trabalham com o imaginário – e todos, de uma certa forma ou de outra, perguntavam sobre você.
Eu, sempre me esquivando, respondia pouquíssimas vezes, não queria mais falar sobre isso, mas ainda estava sob aquele maldito feitiço deles e não conseguia escapar.

Contei sobre os seus feitos mais conhecidos e, depois de muitas perguntas, acusaram-me de mentir o pior tipo de mentira. Mas me garantiram que é assim, exatamente assim, que se mente: separando os pensamentos das palavras.

Então, de volta ao meu mundo, resolvi levantar um brinde aos pensamentos que nunca expressamos.
Meus pensamentos, assim, esvaíram-se ao vento que passava através da minha janela. Pensei em você e, como num encantamento, o seu mensageiro apareceu.

Ele passou um dia inteiro aqui em meu reino, e disse que o seu tempo não é o meu. Contou-me que a fenda é insidiosa, e que as damas e os cavaleiros podem, assim, esconderem-se uns dos outros, ou até de si mesmos, conforme mudam a roupagem.
Tomamos vinho e, depois do jantar, conversamos ao redor da fogueira. Mas em nenhum minuto deixei que falasse sobre as histórias do seu reino distante (como venho fazendo há muito tempo). Pensei que isso seria bom.

No entanto, nesta noite tive sonhos, muitos sonhos... Acordei de súbito. Tentei voltar a dormir para retomar o sonho, porém não consegui. Peguei minha capa, montei em meu cavalo e saí galopando pelos arredores para que o vento me fizesse, então, acordar. Voltei, tomei um forte café e agora escrevo para você.

Prenderei esta carta na pata esquerda da minha águia gigante e tenho certeza de que ela chegará até você o mais rápido possível.

Eu, como senhora do meu reino, com minha capa e minha coroa, acredito que os mensageiros da intuição ainda nos visitam em sonhos, para nos lembrar das coisas que esquecemos e para nos mostrar que nunca perdemos os cavaleiros bravos e andantes com a espada e o escudo de que precisamos contra os dragões.

A intuição sussurra a verdade.
 Acredite.

Bons sonhos, nobre e destemido Cavaleiro do Outro Reino.

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